terça-feira, 24 de abril de 2018

Noites




Em um voo rasante, quase que na velocidade da luz, tua nave se aproximou do meu mundo. Como se a sua frente houvesse um obstáculo intransponível, diminuístes a velocidade, e por um segundo luz permaneceu em mim. Tua luz era tão intensa, pois brilhava mais que ADARA!  Naquele instante consegui ver alem da imaginação, olhei para um jardim florido que estava nascendo em um amanhecer que não me pertencia, em um mundo que não era o meu! Como se sua nave tivesse tido um probleminha qualquer e  necessitasse de reparos, você acabou ficando um pouquinho mais em mim! Naquele mundo cheio de esperanças e fantasias que ingenuamente tentei construir, só existia você e eu! Tudo foi tão bom, tão inexplicável, que até se pareceu com um sonho! Me lembro das tantas vezes que tentei acordar, só por imaginar que o que estava acontecendo não passava de um sonho... muito embora houvessem dúvidas quanto a realidade do sonho,  em meio a abraços e beijos, me pegava lúcido e altivo em um universo real. Apesar da sincronia perfeita, dos beijos que duravam noites inteiras, tudo era turbulência a nossa volta, procelas gigantes se formavam do nada, e nos envolviam em uma espécie de medo inexplicável de que tudo pudesse por um instante se acabar. . Tendo em vista que por varias vezes, em rápidas decolagens sua nave subia, e aí minha luz diminuía  a intensidade,  e nesse instante meu mundo ficava as escuras. De repente  você do nada reaparecia, e tudo voltava a brilhar!
Desde que sua nave atracou em meu mundo, tudo foi diferente, tive vontade de descobrir coisas novas, coisas que minha desajustada e pacata vida desconhecia. Como se eu fosse Colombo, com minha Nau, saia junto a você procurando novas terras, novos mundos,  e  aventuras diferentes todos os dias, aventuras essas que hoje enfeitam minha vida na forma lúdica de uma doce saudade!
Como se tudo já estivesse escrito, que aquele mundo recém criado não era para ser nosso, depois que a ajudei com os problemas de sua nave, os quais não a atrapalharia mais em sua viagem, sem me perguntar o preço do serviço prestado, ou  a dor que me causaria, sorrateiramente sua nave em um triste dia decolou, para nunca mais voltar! O impacto provocado por sua retirada, me jogou em um buraco negro e sem fim, senti a imensurável força gravitacional me sugando em direção ao desconhecido, a poeira cósmica com o cheiro do seu perfume, ao mesmo tempo que me servia de combustível, me machucava a cada respirar, ainda hoje aquele aroma me maltrata... Por anos recebi impacto de outros corpos, os quais não eram iguais ao seu, foram apenas fantasmas que em minhas noites solitárias, eram uma espécie de balsamo que aliviavam às minhas mais intimas dores... Desse fato confesso que tenho vergonha, pois tenho tentado ser um homem correto a cada dia do meu viver, e se eu pudesse voltar no tempo, minhas atitudes seriam bem diferente, ás vezes em minhas solitárias noites, me pego sendo assombrado pelos tais fantasmas, e isso ainda tem uma espécie de poder, o de me jogar no seio do mais profundo arrependimento, pois nem os nomes delas eu guardei...
Podem até me julgar, porém não sou o único culpado por ter entrado  nessa espécie de  mundo tacanha e miserável, que minha ignorância construiu!
Já me culpei por tudo, mesmo sabendo que a culpa não foi somente minha! Tantas coisas aconteceram que ingenuamente não soubemos contornar!
Com sua partida, continuei rodopiando sem sentido, tudo girava em torno de um eixo imaginário, aonde eu estava a cada dia viajando por estradas que se continuasse, jamais poderia retornar. Eu acreditava que o meu mundo havia terminado, Hoje ainda vejo vultos na escuridão, os tais corpos que outrora se aproximaram de mim, em sonhos, ou em meus pesadelos, insistem em retornar, como se os rejeitassem, deixo os ir sem se quer perguntar seus nomes.
Tem vezes que ainda me sinto perdido, me voltam a memória aqueles tempos em que a  cada segundo via a minha luz diminuir de intensidade!
Por alguns instantes me pergunto, aonde esta você agora: quem recebe seus abraços, seus carinhos, quem os tem os merecem! São tantas perguntas, mas a mais cruel è: por que deixei você ir embora, por que não lutei um pouco mais! 
Como você faz falta estrelinha do meu amanhecer, como você que era tão real, pode se transformar neste calvário dolorido e sem fim... 
Condenado a morrer amargurado e nessa escuridão turbulenta, espero ansioso que um dia você retorne ao antigo porto, e me resgate ainda vivo, pois se você não voltar, que pelo menos possa aparecer a tempo uma outra nave, trazendo um pouquinho do brilho que era seu, para me tirar das trevas em que vivo!  Se voltar, com certeza seu lugar estará reservado, e preparado para que nunca mais eu a deixe partir! Se você foi um sonho eu não sei, só sei que foi  bom de mais em quanto durou, apesar de tudo ter se transformado em tristezas logo depois que acordei. Me sinto como um acusado por crimes não cometidos, e em uma cela imaginaria, da qual não consigo me libertar, vou tentando viver na  ilusão do seu retorno, ou na incerta espera de que um dia aporte em minha vida uma outra nave, para me devolver um pouquinho da felicidade que com você eu aprendi a ter...
E nesse miserável e aterrador mundinho, nunca mais quero entrar... você é a mais doloridas e doce das saudades que tenho, me contento apenas quando percebo,  que te perdi, porém a tive por um breve instante em meus braços...

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