sábado, 28 de abril de 2012

O Som do Silêncio




Olá escuridão, minha velha amiga e eterna companheira
Eu vim para conversar com você novamente
Por causa de uma visão que se aproximou suavemente
Bagunçou minha vida, desarrumou todos os meus sonhos e depois de tudo
Deixou suas sementes enquanto eu estava dormindo
E da visão que foi plantada em minha mente não consigo me livrar
Por mais que eu tente esquecer, ainda permanece
Dentro do som do silêncio!

Em sonhos, sem descanso e descalço eu caminhei só
Em ruas estreitas de paralelepípedos
Sob a áurea de uma lamparina da rua
Virei minha gola para o frio e a umidade
Quando meus olhos foram esfaqueados pelo flash de uma luz de neon
Que rachou a noite e tocou o som do silêncio
Me vi perdido, sob o som do silencio, e com a imagem dela a minha frente
Tudo se parecia como antes, a rua deserta de paralelepípedo, se transformou na estrada florida do meu passado, que com ela caminhava, minha noite fria se transformou em manhãs de primavera, momentos incríveis vividos sob o som do silêncio, sonhos que duraram ate o sonho acabar!
Acordei e me vi perdido em sua penumbra mais uma vez, não consigo caminhar, não consigo viver, preciso urgentemente acordar.
Amiga escuridão me ensine, me ajude a encontrar o caminho da luz, tenho que abandonar este sonho e desta mulher esquecer, necessito achar a razão de viver!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mensagem do Velho ao Moço







Você já foi criança um dia... mas os anos se dobraram e fizeram de você um jovem, quase um adulto... E agora você me olha com certo desprezo só porque muitos anos se dobraram para mim e hoje eu sou um velho... Você observa minhas mãos trêmulas e encarquilhadas e se esquece que foram as primeiras a acariciar as suas, inseguras na infância. Critica os meus passos lentos, vacilantes, esquecendo-se de que foram eles que orientaram seus primeiros passos. Reclama quando lhe peço para ler uma palavra que meus olhos já não conseguem vislumbrar com precisão, esquecido das várias palavras que eu repeti inúmeras vezes para que você aprendesse a falar. Fala da lentidão das minhas decisões, esquecendo-se de que suas primeiras decisões foram por elas balizadas. Diz que eu sou um velho desatualizado, mas eu confesso que pensei muito pouco em mim, para fazer de você um homem de bem. Reclama da minha saúde debilitada, mas creia, muito trabalho foi preciso para garantir a sua. Ri quando não pronuncio corretamente uma palavra, mas eu lhe afirmo que esqueci de mim mesmo, para que você pudesse cursar uma Universidade. Diz que não possuo argumentos convincentes em nossos raros diálogos, todavia, muitas foram as vezes que advoguei em seu favor nas situações difíceis em que se envolvia. Hoje você cresceu... É um moço robusto e a juventude lhe empolga as horas... Esqueceu sua infância, seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seus primeiros sorrisos... Mas acredite, tudo isso está bem vivo na memória deste velho cansado, em cujo peito ainda pulsa o mesmo coração amoroso de outrora... É verdade que o tempo passou, mas eu nem me dei conta... Só notei naquele dia... naquele dia em que você me chamou de velho pela primeira vez, e eu olhei no espelho... Lá estava um velho de cabelos brancos, vincos profundos na face e um certo ar de sabedoria que na imagem de ontem não existia. Por isso eu lhe digo, meu jovem, que o tempo é implacável, e um dia você também contemplará o espelho e perceberá que a imagem nele refletida não é mais a que hoje você admira... Mas você sentirá que em seu peito o coração ainda pulsa no mesmo compasso... Que o afeto que você cultivou não se desvaneceu... Que as emoções vividas ainda podem ser sentidas como nos velhos tempos... Que as palavras amargas ainda lhe ferem com a mesma intensidade... E que apesar dos longos invernos suportados, você não ficou frio diante da indiferença dos seres que embalou na infância... Por isso que eu lhe aconselho, meu filho: Não ria nem blasfeme do estado em que eu estou, eu já fui o que você é, e você será o que eu sou... Aquele que despreza seus velhos, é como galho que deixa o tronco que o sustenta tombar sem apoio. A ingratidão para com os que nos sustentaram na infância é semente de amargura lançada no solo, para colheita futura. 

Assim, façamos aos nossos velhos o que gostaríamos que nos fizessem quando a nossa idade já estiver bastante avançada.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Pensador!



Não se preocupe em ver o Céu, nós estamos viajando por

ele a 100.000 km/h, esta é a velocidade da TERRA, sendo

empurrada pela mão de DEUS infinito a fora!



FILOSOFIA PARA VELHICE




Você sabia, que a única época da vida que queremos ficar velhos é quando somos criança?
Quando temos menos de 10 anos, temos tanta vontade de envelhecer que pensamos em frações:
- “Quantos anos você tem? – Tenho quatro anos e meio.”
Nunca teremos trinta e seis anos e meio. Temos quatro e meio, quase cinco! Este é o segredo.
Na adolescência, então, ninguém mais nos segura. Teremos sempre um ano a mais, ou mesmo alguns à frente: - “Quantos anos você tem? – Vou fazer 16!” Podemos ter 13, mas... “vou fazer 16!”.

Daí, chega o maior dia da nossa vida... Fizemos 21 anos. Até as palavras parecem cerimoniosas.
Fizemos 21... YESSSSS!
Mas, então, chegamos aos 30. Oh, que aconteceu?

Isso nos faz parecer leite estragado! Fica azedo, temos que jogá-lo fora. Não tem mais graça, é apenas leite azedo. O que está errado? O que mudou?

FIZEMOS 21, ATINGIMOS 30, e agora estamos ESPERANDO 40. Caramba! Pode parar, tá tudo errado!
Antes mesmo de percebermos, CHEGAMOS aos 50 e nossos sonhos se esvaíram.

Mas, espera! Fizemos 60. Nem imaginávamos que conseguiríamos!
Assim, FIZEMOS 21, ATINGIMOS 30, ESPERAMOS os 40, CHEGAMOS aos 50 e ALCANÇAMOS os 60.
Atingimos uma velocidade tão grande que já batemos nos 70!
Daqui prá frente, é um dia depois do outro...
Quando conseguimos chegar aos 80, cada dia é um ciclo completo: alcançamos o almoço; passamos pela tarde; chegamos à hora de deitar.
Se chegarmos aos 90, começamos, então, a voltar:  - “Eu tinha exatamente 92 anos...”.
A í, acontece uma coisa estranha. Se passarmos dos 100, tornamo-nos crianças outra vez:
- “Eu tenho 100 e meio!”
Que todos nós cheguemos a uns saudáveis 100 e meio!

George Carlin, aos 102 anos.





sexta-feira, 6 de abril de 2012

Canto Para A Minha Morte

Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar

Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...

Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...

Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida


Raul Seixas